Nos corredores da política, raramente um rompimento acontece de um dia para o outro. Geralmente, ele é tecido em silêncio, ponto a ponto, até que o tecido já não sustente mais o peso das expectativas frustradas. E foi assim que Rio Tinto assistiu, quase sem surpresa, ao fim da parceria política entre a prefeita Magna Gerbasi e o deputado estadual Chico Mendes.
Na noite de ontem, em entrevista, Chico afirmou ter sido “pego de surpresa” e garantiu que “todas as ações que existem hoje em Rio Tinto chegaram por meio dele”. A fala, no entanto, não encontra eco na memória recente da cidade.
Para entender a história, é preciso voltar a 2022, quando o então deputado Ricardo Barbosa deixou a Assembleia Legislativa para disputar uma vaga na Câmara Federal. Ao indicar Chico Mendes como sucessor, Barbosa firmou um compromisso claro: o novo deputado deveria assumir a interlocução junto ao Governo do Estado para acompanhar obras já prometidas pelo governador à prefeita e à cidade, em reunião realizada no início daquele ano.
O grupo político de Magna honrou o acordo. Em cima da hora, somou esforços e garantiu a Chico mais de 3 mil votos em Rio Tinto, ajudando a pavimentar sua vitória. Era uma parceria construída sobre a promessa de continuidade.
Mas a estrada dessa aliança foi ficando esburacada. Já eleito, Chico manteve sua base e seu olhar voltados para o sertão, especialmente Cajazeiras, onde se lançou como pré-candidato a prefeito. Enquanto isso, Rio Tinto seguia seu calendário intenso de obras, inaugurações e eventos — sem a presença do deputado que ajudara a eleger.
A lista de ausências é longa: festa da emancipação em dezembro de 2023, carnaval tradição, festa da padroeira, São João, desfiles de 7 de setembro e o Natal Iluminado, datas tratadas pela população de Rio Tinto como 'tradicionalíssimas'. Em ano eleitoral municipal, essas datas não são apenas eventos; são pontos de encontro com a população, oportunidades de reafirmar compromissos. E Chico não esteve lá.
Nos bastidores, vereadores e lideranças comunitárias começaram a questionar a viabilidade de manter o apoio. Não se tratava de ingratidão, mas de constatação: o deputado estava distante, e a política local exige proximidade.
Importa dizer que todas as obras do Estado em Rio Tinto decorrem de articulações feitas diretamente entre a prefeita Magna e o governador, ainda em 2022. A Chico caberia acompanhar, cobrar e representar, papel natural de um deputado estadual. Ele o fez no início, mas sua presença física e política foi rareando até quase desaparecer.
A prefeita Magna, por sua vez, nunca deixou de reconhecer publicamente o trabalho realizado em conjunto, mas, fiel à sua história, escolheu seguir o caminho que julgou melhor para a cidade. E, como ela mesma já demonstrou ao longo da carreira, suas escolhas costumam mirar não no passado, mas no futuro de Rio Tinto.
No fim, a política é feita de compromissos, mas também de presenças. E, no jogo democrático, a ausência pode pesar mais do que qualquer promessa cumprida no papel.
Por Jhordan Paes
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